quinta-feira, 30 de junho de 2016

Passagem, 63


Não pensava no tempo, sentia o gelo percorrer minhas pernas e fígado. As têmporas pulsavam enquanto bebia o café forte em copo descartável e queimavas a ponta da língua. As palavras corriam rápidas e não prestava atenção em nada específico, embora quisesse entender tudo que acontecia ao redor enquanto você falava comigo. Falar não é bem a palavra. Lia as letras difusas que, de alguma forma, se atraíam e formavam símbolos por um magnetismo fantástico que não entendia, não saberia ao menos dizer se, realmente, estavam ali. Em minha mente imagens se formavam, sensações, toques, gostos e cheiros se combinavam em cenas que me tiraram dali. Não havia outras pessoas, não havia café, não havia queimadura, não havia gelo, não havia copo e muito menos, não havia algo descartável. Não havia. Fazia tempo que não a via. 

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