quarta-feira, 22 de junho de 2016

Passagem, 62


Eu observei as ruínas, senti o medo e os pavores, percebi seus destroços fugindo aos meus dedos magros e queimados. Eu olhei pela vidraça quebrada e senti seu suor salgado evaporando em minha direção. E como foi gostoso sentir esse sabor em meus lábios rachados e secos. Tudo tremia ao meu redor e o chão se abria. Não havia mais teto. Apenas eu em meio àquele deserto e sua lembrança desintegrando-se, segundo após segundo, em minha frente. Eu observei você sumir, sem adeus, acenos ou abraços de despedidas. Não houve despedida. O sol se explodia várias e várias vezes, em uma torrente de chamas e calor. Com um clarão avermelhado, tudo foi embora. O sol brilhava de uma forma que nunca imaginei e, enquanto encarava aquele grande deus amarelo fogo, minha visão se ofuscava em meio à luz branca. Não via mais nada. Cada célula de meu corpo queimava e, em meio a essa entrega, vi um pequeno ponto que era você, saudosa e nostálgica, me chamando pra passear. Eu sorri. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário