terça-feira, 26 de abril de 2016

Passagem, 59 - Fragmentos


"What makes a man walk away from his mind?" A música tocava, a mesma estrofe repetida várias e várias vezes. 

O vento leva pra longe a poeira que deixamos espalhada junto a nossos passos. Em tempos de leituras astronômicas e observações rápidas do céu noturno, tenho cada vez mais uma forte intuição da fuligem que nos constitui. Somos resquícios do passado, dos dias em formação, fragmentos do que fomos, somos e seremos. Fagulhas que se atraem e repelem em meio a reações de potência inigualável - para bem ou mal. A terra é um ponto azul microscópico em meio a uma galáxia imensa e maravilhosa. 

E nós, em toda nossa imensidão humanamente impecável? Menos ainda. 

Alguns dias me sinto como asteróide que se aproxima de solo terreno em toda força possível, porém em muitos outros, sou apenas os destroços, sou apenas pedaços de fígado, rins, giros cerebrais espalhados em forma de poeira intergaláctica por uma paisagem devastada. Somos a luz e a devastação. O poder e a fraqueza. A ilusão e desilusão, um reflexo vazio e, também, fiel de um eu que por vezes não reconhecemos mais, mas que está sempre por perto, como sombra companheira. 

What makes a man walk away from his mind? São várias coisas, pode ser apenas o "estar", que talvez, já não esteja tão bom. Em meio a isso tudo, a essa tarde ensolarada, mas que não faz calor, já estou ansioso pra que a noite chegue e traga junto aquela imensidão azul escura sobre mim. Quem sabe ali eu consiga me identificar em fragmentos distantes, talvez até mortos, mas que ainda lutam incansavelmente para brilhar?

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