segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Passagem, 50



Ah... suas canções falavam tanto, mas na época nada fazia sentido. Com o tempo, me tornei mais um em meio à loucura da cidade, mais uma vítima que se entrega ao vendaval...e fui... levado em meio àquilo tudo, pressa, contas a pagar, trabalho, especializações, falta de dinheiro, trânsito, mais obrigações e menos sonhos, mais "cidadão", "homem de família" e menos "eu". Aquele vidro romântico pelo qual enxergava tudo, agora só aparece de vez em quando, fica escondido a maior parte do tempo, subindo vagarasomente em alguns momentos, da mesma forma que a janela do carro que pretendo trocar até o fim do ano. E acho que, em grande parte, é isso o que nos tornamos: uma figura em meio às outras, mais um corpo caminhante, trabalhador e registrado, uma formiga em meio a um grande e confuso formigueiro. E, não, não é catastrófico assim! Claro que há seus momentos de glória, de sonho, de resgate e diversão. O que questiono aqui é a perda de essência, daqueles sonhos e ilusões que todos nutrimos por um tempo e, cara, tudo parece tão fantástico e possível. E, sabe o que assusta? Olhar para seu reflexo e não reconhecer muito bem; pensar no depois de uma forma crua e seca, sem ilusões, sem muitas crenças ou possibilidades, apenas enxergando aqueles objetivos pré-estabelecidos para se alcançar, que vão compor uma bela (talvez) carreira, família, casa, carro, seguro de saúde e aposentadoria. E para aquela pessoa de "antes", quando você tem alguns momentos de lucidez, é um grande choque se ver assim. Perceber o quanto o mundo de transformou, o quanto a passagem do tempo teve um efeito transformador sobre você, positivo por uns lados, mas deixando tantas partes suas espalhadas pelo vento. Perceber como sua visão sobre a vida, sobre sua casa, sua família, seus planos, sobre o amor, sobre o sexo e o carinho são diferentes.

Claro, "tudo muda", o "tempo passa", são clichês bem aceitáveis, mas não quer dizer que sejam melhores ou mais corretos. O que me incomoda é não conseguir manter um equilíbrio.. e, não me entenda mal, não sou uma pessoa neuroticamente nostálgica, mas quem não acorda alguns dias lembrando, de forma saudosista daquele (a) jovem de alguns anos atrás? Da forma com que tudo parecia possível e não tão cru ou rígido como a vida se apresenta à medida que o tempo passa?

É, sou mais um daqueles com problemas em aceitar a passagem do tempo.

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