terça-feira, 7 de abril de 2015

Passagem, 44 - Era de Ouro


Ninguém entendia coisa alguma. Centenas de pessoas correndo, sem rumo, sem ordem, com vontade, não sabiam a onde ir ou o que esperar daquela baderna. A cidade continuava do mesmo jeito, embora parecesse cada vez mais agressiva, suja e selvagem. As pessoas pareciam cada vez mais agressivas, sujas e selvagens. Na verdade, ninguém sabia o que fazer. O caos estava instalado fazia tempos. Tudo de cabeça pra baixo. Tudo incerto.

Sua mente traçava planos e planos de novos rumos, novas etapas em sua vida, lugares em que a vida iria lhe sorrir um pouco mais; lugares nos quais poderia curtir a chuva caindo, o sol nascendo, a ventania em seu rosto, as palavras por todos os lugares, enriquecendo uma rotina diferente da sua; uma rua diferente da sua; vizinhos diferentes dos seus; trabalho diferente do seu; pão diferente do que comia; tinha tudo planejado e esquematizado - embora também não soubesse onde seria esse lugar, claro que tinha seus palpites... mas palpites são apenas palpites.

E pensando nisso tudo, lembrou-se de "Meia Noite em Paris", de Woody Allen. Que filme fantástico! Um obra completa - divertido, envolvente, dramático, te transporta para aquele lugar, com aquelas pessoas e faz querer assumir o papel daquelas pessoas, sendo difícil acreditar que, realmente, ele não entrava naquele velho carro e visitava Hemmingway, Fitzgerald e toda a trupe fantástica que acalenta a mente de tantos perdidos por aí. A década de ouro de Paris! A Paris da boemia, romance e poesia. As noitadas culturais e alcoólicas absínticas, com figuras da literatura, pintura e moda. A Paris dos refugiados e deslocados desse mundo afora. E, em outro momento do filme, na Belle Époque, o protagonista tem a mais forte e importante constatação, um baita murro bem dado no estômago de qualquer um perdido por aí:

sempre o seu presente poderia ser melhor e temos uma tendência grandiosa a compará-lo com épocas que vivemos ou, especialmente, que não vivemos, mas julgamos que seriam mais interessantes, libertárias e românticas; que nelas, a vida seria melhor. Ou seja,

somos seres com uma grande tendência à insatisfação, seja hoje, amanhã ou anteontem.

E isso me deixa triste, faz pensar no que estamos fazendo aqui... mais uma daquelas reflexões filosóficas de quando sua vida está bagunçada, você está cansado, puto e sentindo falta de algo mais, quem sabe daquela "era de ouro". E após pensar e pensar, será que essa "era de ouro" não pode ser agora? Que não tenha Hemmingway e Dali para batermos um papo e tomar um conhaque, mas que seja a minha Belle Époque, afinal, é "quando" estou e...sejamos sinceros, não sabemos até onde nossa história vai. Que não seja Paris, que seja Belo Horizonte, mas que seja minha era de ouro.

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