Costa Branca
Ainda resbalava sobre seus pés as centelhas de areia que ela deixara ao contar suas estórias de lugares distantes e míticos, enquanto ele admirava-a em sua mais sublime simplicidade noturna. Era uma conversa proibida, as leis não aceitariam aquele encontro sob a chuva, as duas almas entrelaçavam-se e se perdiam e essa era a magia.
Os minutos que durariam o encontro, pois fora o combinado - não pode passar de 38 minutos - se estenderam pela madrugada de seus corações, em conversas desentendidas e despretensiosas. O contar da família, dos gostos e sonhos pelo mundo marcavam sua mente e ele admirava aquela pessoa a qual não se parecia com ele em sua forma crua, seu cerne que ele mesmo mal conhecia, mas era o que o atraía em meio aos tumultos das manhãs.
A bebida ardia em sua boca, mas as gargalhadas aliviavam tudo, não há o que um sorriso não possa consertar, não adia a morte, mas tem o poder de amenizá-la. O tempo foi chegando como sempre chega, sorrateiro e certeiro aos seres que querem desfrutar o prazer do existir, sem compromissos ou ordens, ou leis imaginárias implantadas por cada um. Não queriam dizer o adeus, pois não saberiam se haveria outro momento como aquele.
Ela disfarçava o olhar e sorria, ele bebia mais um gole, buscava seus olhos e desejava não ir embora, queria mais do que qualquer coisa que aquele tempo se estendesse. Ele respirou fundo, pigarreou o vento, pegou em sua mão direita e a sentiu esfriar no mesmo instante.
- Acho que devemos ir.
- É...
Levantaram-se, a conta já paga e seguiram até o carro - só ali perceberam que as mãos ainda estavam entrelaçadas.

Nenhum comentário:
Postar um comentário