segunda-feira, 21 de outubro de 2013

O açúcar e o café - Passagem, 12

                                                                               Morroco, Friday, 15 October, 2010

Aquele dia especificamente ele se cansara de falar sobre o tempo.

Sentia o gosto do café amargo na boca - agora usava o mínimo de açúcar - a cabeça doía e estava com fome e vontade de um copo de cerveja. Seu amigo o encontraria em alguns minutos e seria bom, como sempre era. Aquele mesmo trecho da música se repetia em sua cabeça "when i was young i didn't know too much, i thought that i could rule the world. Then i grew up i found out life was hard, harder than stone"

São pequenos momentos que ganham sombra de grandeza. É uma mensagem que chega de seu irmão de São Paulo falando sobre a loucura da vida, que precisa te ver e conversar e pergunta sobre sua vida e sobre o tesão. E a vida e mais, o tesão pela vida eram o combustível pra ele. Eram os combustíveis para eles. E ele estava louco em minas gerais. E ele estava louco em são paulo. Cada um à sua forma. Cada um em seu momento, mas os sentimentos eram comuns e precisavam se encontrar, precisavam lavar a alma e falar sobre os furos nas solas dos sapatos.

E o café apertava sua boca. E a música repetia em sua cabeça. 

Era a sintonia do tempo e do calor, do céu cinza e do sol escondido, o som penetrando em seus tímpanos uma canção que parecia de tempos atrás, de um lugar que nunca foi, mas um senso comum, a noção da necessidade e da partilha do peito, um lugar a mais na mesa de jantar para a visita que não se quer receber; a última jujuba laranja do pacote.

Talvez aquela noite não tomasse o copo de cerveja ou acabasse falando novamente sobre o tempo, poderia ser, mas quem sabe, não colocaria um pouco mais de açúcar em seu café?


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