terça-feira, 31 de janeiro de 2017

Passagem, 67

Muitas vezes não entendo o que penso, só vou levando, da forma que dá. Chego em casa, faço um chá e tenho preguiça de refletir sobre o dia que passou. Os gatos bocejam e espreguiçam sem mais nem menos, uma coreografia maravilhosamente delicada e ensaiada. Observo de longe, mal respiro para não atrapalhar essa cena fantástica. Duas em cima da mesa, os outros dois na janela. Lá fora o tempo passa, correndo, ventando, sombreando. As buzinas frenéticas, as contas na bancada, a chaleira gritando, os vizinhos batendo porta, o celular infartando repetidamente... e os gatos? Os gatos ficam de olhos quase cerrados, com as pupilas como pequenos riscos pretos e as bocas abertas o máximo possível em um bocejo delicioso, indiferentes ao tempo. Sábios são os gatos, afinal, o "tempo" foi o criador do "sonho". A falta do tempo, a prisão do tempo, é a prisão do sonho. Ao fim desse chá de camomila... ganho mais observando os gatos. As estrelas são indiferentes à astronomia.

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