quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

Passagem, 56 - Os ventos


A água torrencial acariciava suas costas, o sal acalentava os lábios ressecados e o sol do amanhecer abria novas perspectivas. O caminhar da calçada até a areia parecera o maior percurso que percorrera nos últimos tempos. Há muito ansiava por aquele momento, mas anseios não precedem decisões. Podem servir como estopim, mas muitas vezes são apenas fagulhas e lampejos de uma vontade escondida ou reprimida há tempos.

Sem pestanejar ele correu e correu, os pés agradecendo pela mudança da textura asfaltada para a arenosa e refrescante areia da praia, a praia de todos os tempos, o mar de todas as suas vontades, que guardava segredos e mistérios com os quais sonhava de criança, que sabia, um dia, haveria um barco esperando-o para embarcar e seguir rumo àquela imensidão azul esverdeada. E quando assim partisse, ficaria perdido em meio aos espelhos que se encontravam de céu e mar, dia e noite, com alguns momentos de divergência discreta, com pequenas diferenças de tonalidade, e seria fantástico seguir na proa e observar atentamente esses momentos, tomando notas mentais de tudo que fosse possível, anotando todos os pensamentos, cores, os ventos, cheiros e sentimentos que aquela perdição aquosa provocassem e apresentassem à sua mente conformada.

Seria pescador, mergulhador, explorador, navegante, temeroso e aventureiro, seria um conjunto de fatores que não sabia quais, seria irmão daquele mar azul, claro, escuro anil, que se esticava sem fim, pois, naquela época, vivia defronte ao seu próprio fim, mas não era o que queria, dentro de si, sabia que havia ali uma vastidão inexplorada, e esse era o momento perfeito.

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