quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Passagem, 54 - Concha


Dizem que as conchas trazem de volta os barulhos do mar. Aquela concha específica, além dos sons saudosos do oceano, trazia também uma nostalgia de outros tempos. Lembrava um momento gostoso da vida, em meio a turbilhões, aquelas viagens eram fugas, refrescos em meio às explosões diárias. Trazia a recordação de um lugar, uma outra casa que abrigou em sua infância alguns dos melhores dias de sua vida, dias em que a realidade não era dura ou amarga. Lá, a realidade era marcada pelo gosto de sal do mar, de sorvete, cachorro quente e cocada de côco queimado.

Naquele dia, segurou a concha forte entre suas mãos, como um talismã, que misturado a tormenta do mar, trazia calmaria a seu espírito e o fazia respirar fundo e calmo. E às vezes isso é tudo que precisamos. Um respiro calmo. Um vento que venha de longe, de outros extremos, mas que acalente a mente atormentada e cansada. Uma lembrança, um carinho, um olhar, algumas palavras, uma xícara de chá ou uma música, qualquer coisa que lhe faça respirar e elevar os pés daquele chão tão quente. Em seu caso, foi uma concha que estava guardada há uns bons anos, ainda suja de areia e começando a descamar, tal como as recordações. Nem sempre são claras e vívidas, mas mantém sua essência forte, apesar dos detalhes que às vezes são perdidos. E, ainda assim, podem ser o elo que mantém firme nossa sanidade, podem ser o porto seguro para o qual retornamos após a tempestade.

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