segunda-feira, 18 de maio de 2015

Passagem, 46 - Terminal Alvorada





Era tarde.

Daquele dia não esperava muita coisa, mas da vida fazia planos constantemente.

- Como vai?
- Tudo bem.

A fumaça subia longe, tudo cinza, dia cinza, fumaça cinza, olhos cinzas e cabelos castanho claros.

- O que traz você aqui?
- Não sei, a vida tem ido sem alarde.

Olharam-se por alguns segundos, aquele olhar desajeitado, sem saber ao certo o que olhar. As mãos acabam buscando a barba para coçar uma coceira que não existe e olha-se para o semáforo em busca de uma luz vermelha indicando a hora de ir embora.

- Faz um bom tempo que não sei o que é saudade.
- A vida vai, vida vem, eu não ligo e o dia passa bem, sem nada demais, sem fugas, sem festas, sem crianças, com planos e desenhos de um futuro logo amanhã.
- O dia alaranjou.

A fumaça ficou mais rala e em meio à parede cinza de nuvens, vento frio gelando as mãos, um ponto alaranjado deu sinal, fazendo força para empurrar as grandes massas de algodão esfumaçado.

- É o dia pedindo passagem, não é?
- É, pode ser, tomara, né?

E aquilo mais que vier, faz parte. Os quatro minutos de conversa passaram rápido, na verdade, na velocidade que se passam quatro minutos, mas esses foram bem gostosos, saudosistas, com aquele tom nostálgico que acalenta, com cheiro de infância.


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