segunda-feira, 23 de junho de 2014
Passagem, 27
A sombra da imagem concretual de seus olhos atinge meu estômago de forma certeira. Acho que por isso essa gastrite não me deixa. Não penso em possibilidades, traço um plano e tento manter-me o máximo possível no caminho. A liberdade de ir e vir não é real.
Realmente não gosto de interrupções telefônicas, tenho meu jeito chato de ser, gosto de muitas coisas que são poucas ao mesmo tempo para muitos e, na verdade, gostaria de me importar menos com isso.
Sinto falta do cheiro do mar quase todos os dias de minhas semanas. E sempre que vejo na tv ou em fotografia algum lugar que ache bonito ou aconchegante penso: "como seria bom tocar violão ali, escrever ou ler alguma coisa". Isso me faz bem, se torna parte do plano.
Tenho vontade de viajar o tempo todo, não porque isso possa ser uma terapia ou coisa do tipo, simplesmente porque é fantástico e libertador.
Tento me conhecer melhor, olhar mais pra dentro, conhecer mais o mundo e as pessoas, ler mais, viver a natureza, entrar num barco e olhar da proa, sentindo as gotas de sal contra o rosto, sem barulho algum, a não ser o das ondas.
Acho injusto ver em um filme uma pequena estradinha no meio dos alpes, com um lago e um vilarejo e pensar que nunca passarei por ali. Ver uma cidadezinha no Piauí e as pessoas batendo papo na praça e talvez nunca escutar daquela conversa. Não viver o verão, outono, inverno e a primavera primaveril em Paris e São Francisco. Não poder tomar sopa de camarão por fins de semana consecutivos em Frisco até enjoar. Não viver 6 meses em Cabo Frio e trabalhar no mercado de peixe. Não fazer doce de leite em Tiradentes ou não vender café em alguma cafeteria de Ouro Preto. Não trabalhar em uma livraria em alguma cidade legal e conhecer pessoas. Não escrever um livro em uma casa pequena nas highlands escocesas ou não morar em um apartamento legal em Edimburgo e curtir aquela chuva fantástica. Não aprender a fazer pão.
São muitas cidades. São muitos climas. São muitas pessoas. São muitas matas e montanhas. São muitas praias e oceanos. São muitos vinhos. São muitos pães. São muitos livros. São muitas vontades, muitas. E o tempo não é pouco, não o tempo de uma vida. O tempo é pouco de acordo com a vida que nos fazemos viver.
Sinto falta da liberdade que ninguém tem, e não sei como sinto falta se também nunca a tive.
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"Sinto falta da liberdade que ninguém tem, e não sei como sinto falta se também nunca a tive".
ResponderExcluirIsso é como a nostalgia que sinto de lugares e situações que nunca vivi, mas as desejo tanto e sonho tanto com elas que chegam a ser reais em algum momento, e daí eu sinto essa falta.
ótimo texto.
Muito bom, rapaz.
ResponderExcluirO meu problema é pensar nas possibilidades. E mais ainda, ver que a maioria delas nunca se concretizará. Analiso muito os contras. Sou um pessimista.