quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Passagem, 8



Já não queria pensar em suas necessidades, eram muitas e várias sem sentido. Esses dias de correria entremeados por instantes de reflexão, nem sempre prazerosos, eram sua rotina escaldante e carbônica. Pensava no tal Big Sur, pensava também no filme que assistira no domingo, o mesmo Big Sur adaptado do livro de seu amigo, Kerouac, que tanto o fizera pensar e acreditar na espontaniedade e encanto da vida e das palavras; da mesma forma, o filme encanta e termina com um soco no estômago e beijo aos lábios de quem o assiste, com as palavras cantadas pelo beboop de Jack e isso é lindo e intenso.

Hoje, só queria passar, parar com jogos ou palavras escondidas pelos lábios que o atacam e o deixam estonteado, é bom até certo ponto, mas não sentia mais tanto prazer nessa espera e é isso que o tempo faz. Queria dar socos nos estômagos com palavras certeiras e gestos atordoantes. Queria dar oi, tudo bem, vamos lá, o caminho é por ali, fique confortavelmente aí e me encante. E quem disse que é assim? E quem disse que foi doutrinado nessa arte sórdida e podre?

Há um vazio por aí, em cada um, em cada ser, que nos faz sentir julgados por um tribunal inconsequente e humano, no qual, como um espelho, estamos ali assentados, à espera sabe-se lá de que. Às vezes, nada basta e, nessas horas, precisamos de socos no estômago, de lábios incandescentes, de uma magia doce e aconchegante que nos acolha e proteja.


"On soft Spring nights I'll stand in the yard under the stars - Something good will come out of all things yet - And it will be golden and eternal just like that - There's no need to say another word.”  (Jack Kerouac - Big Sur)

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